A acupuntura nasceu no Extremo Oriente. Embora faltam
dados arqueológicos presume-se que sua origem remonta a uns 5 mil anos e que
seu berço tenha sido a China. O primeiro livro que trata da acupuntura de forma
exaustiva é o Nei-Ching no terceiro século antes de Cristo, chamado também a
Bíblia da Acupuntura.
Este livro é para os médicos tradicionais o que Os Quatro
Livros são para os confucionistas. É atribuído ao lendário imperador Huang-Ti,
também chamado imperador Amarelo, e está composto na forma de um diálogo entre
o imperador Huang-Ti e o médico da corte Chi Pai ou Chi Po.
O Nei-Ching esta dividido em duas partes: o Su-Wen e o
Ling-Shu. A primeira parte trata de semiologia e clinica. A segunda se refere
especialmente ao tratamento com agulhas e môxas. Em uma passagem da primeira
parte, diz o Imperador Amarelo. Amo meu povo educo-o e recebo seus impostos;
lamento que as vezes, não seja capaz de
produzir bens comerciáveis devido as doenças. No que se refere ao tratamento
desejo que não dependa somente de medicamentos tóxicos e das punções de pedra
(pederneiras). Desejaria também que, se possível, fossem inseridas finas
agulhas nos vasos a fim de harmonizar o Sangue com a Energia, de modo que ambos
pudessem circular nos vasos sem impedimento.
O Imperador Amarelo Huang-Ti é um dos três imperadores
lendários e teria existido 2800 anos A.C. A ele se atribui a invenção dos
tecidos, das telas, da escrita, da maneira de atrelar o boi e o cavalo, da
navegação fluvial, da cultura do bicho da seda e do censo. Fez construir casas,
palácios e templos. Dividiu o país em províncias e distritos. Fez fundir as
primeiras moedas. O Nei Ching contém este conhecimento, porém, assim
transmitido, contém muitas passagens obscuras cuja interpretação tem sido
motivo de inúmeros livros que apareceram ao longo de toda a Historia da China.
Ainda hoje, sob o Governo Revolucionário da China Popular, surgem novas
interpretações que esclarecem não só o significado de passagens herméticas,
como lançam nova luz no tratamento e aplicação prática das agulhas.
Outros dois imperadores lendários precederam a Huang Ti,
Fu-Hi e Shen-Nong. A Fu-Hi, também chamado o caçador, se atribui o conhecimento
dos alimentos e os oito trigramas, Pa Kua base dos 64 hexagramas, sobre os
quais voltaremos a falar mais adiante. A Fu-Hi que sucedeu Shen-Nong, o Deus do
Fogo, que por meio do incêndio dos bosques obteve terras aráveis para seu povo.
Ensinou-o a trabalhar os campos e a comercializar seus frutos. É considerado o
Deus da medicina pois foi o primeiro a reconhecer o valor curativo das plantas
e lhe é atribuida a primeira compilação de matéria médica. Esses imperadores
lendários, que teriam existido no período neolítico chinês, 30 séculos antes de
Cristo, são negados por muitos historiadores que supõem ser criações de épocas históricas
muito posteriores.
A dinastia Hsia (2205-1766 a.C.) pode considerar-se
proto-histórica, incerta. A dinastia Shang (1766-1123 a.C.) conta em
compensação com abundante material arqueológico. Inscrições em osso e carapaças
de tartaruga fornecem a base dos métodos divinatórios que dão origem ao
I-Ching, o livro das Mutações.
A dinastia Chou (112.256 A.C.), em plena história,
representa a idade de ouro da filosofia chinesa (Taoísmo, Confucionismo). O Nei
Ching aparece nesse período. Não se sabe realmente quem foi seu autor, mas
supôe-se que tenha sido escrito por muitos médicos que, por sua vez, recolheram
uma ampla e antiga tradição oral. Não há unidade no texto, salvo a figura
lendária de Huang-Ti; a linguagem é muito arcaica e de difícil interpretação.
Não é, pois de admirar que suas duas traduções para língua Ocidental tenham
sido criticadas como inexatas. Talvez a crítica seja injusta. Diz Fung Yu-lan
que um texto chinês pode ser traduzido pelo menos de 50 maneiras diferentes e
serem todas corretas.
A História da China reconhece períodos em que a
acupuntura floresceu, atingindo um considerável desenvolvimento, e outros em
que estacionou. Deve-se destacar a dinastia Chou, que vê o aparecimento do
Nei-Ching, que acabamos de comentar, e do Nan Ching ou Regra das Dificuldades,
cujo autor foi um mestre famoso, Pien-Tsio de forma positiva; a dinastia Hang
(206 A.C. 220 D.C.) na qual o Célebre Hua To se destacou como médico que
praticou a acupuntura, utilizando somente um ou dois pontos e moxando somente
dois pontos de cada vez. No periodo de desunião (221-589), aparece a regra dos
pulsos ou Mo Ching, um livro que preconiza o diagnóstico do pulso sobre a
artéria radial e que chegou a ser clássico.
Durante a dinastia Sung (960-1279) é construído o famoso
homem de bronze. Trata-se de um modelo humano de tamanho natural, oco, fundido
em bronze e com todos os pontos de acupuntura perfurados. Era utilizado para o
exame dos estudantes. Para isso, cobria-se a superfície do corpo com papel
impermeável ou cera negra e se enchia o modelo de água. O aluno prestava o
exame espetando o boneco de bronze. Fundiram-se modelos pequenos do homem de
bronze e se imprimiram lâminas com os meridianos e os pontos. Também se
praticou a dissecção humana nos condenados a morte, observando-se o
comportamento de diferentes órgãos sob a ação da punção dos pontos dos
meridianos correspondentes. Imperadores e ministros praticavam a medicina e a
acupuntura. Atribui-se ao imperador Jenn Tsong que passeava com seu
primeiro-ministro quando encontraram uma mulher grávida, a seguinte história se
passou: “menino”, disse o imperador. “menina”, corrigiu o Ministro. O imperador
fez a mulher entrar em seu palácio e ele mesmo a puncionou. Ela abortou sob o
efeito das agulhas: tratava-se de um parto gemelar, com um menino e uma menina.
A dinastia Ming (1368-1643) é a época das grandes complicações médicas com
obras que alcançam uma centena de volumes.
Durante a dinastia Ching (1644-1911), acentua-se o
declínio da acupuntura. Amplia-se também a influência ocidental na medicina e
tem começo o ensino da medicina ocidental nas universidades, ficando excluída
das mesmas o ensino da acupuntura. Ao
final desta dinastia, fica teoricamente proibido o exercício da acupuntura. Sem
se levar em conta a população da China (650 milhões de habitantes naquela
época), e o escasso número de médicos diplomados à ocidental (cerca de 15 mil),
compreende-se facilmente que toda a área rural e grande parte das cidades não
dispunha senão dos médicos tradicionais. Por este motivo, embora fora da lei, a
acupuntura continuou a ser praticada e transmitida.
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